Reeducação Gerencial

Estamos passando por uma época na qual se fala muito de reeducação alimentar, tema que nos ensina a nutrição com uma variedade maior de alimentos ricos em nutrientes, ao invés da monotonia de comidas  vazias. Diante disso, podemos pensar sobre as empresas e a reeducação na gestão, que não é tão diferente da alimentação.

O pai moderno da qualidade, Phillip Crosby, nos presenteou com os conceitos de “Zero Defeito” e o “Faça Certo da Primeira Vez”. Para ele, qualidade significa conformidade com especificações, que variam de acordo com a necessidade do cliente e, portanto, quando existe uma falha que impede esta conformidade, o sistema deve ser paralisado, estudado, analisado, reaprendido e refeito para que saia sem falhas. Para Crosby, os verdadeiros responsáveis pela falta de qualidade são os gestores e não os trabalhadores. Muito menos ainda as organizações do macro ambiente, como o governo, legislações, sindicatos e ou outras empresas.
De forma geral, entendemos como clientes os consumidores dos nossos produtos, porém, existem também os clientes internos que são os acionistas das empresas que investiram para que ela fosse criada e precisam não só ter o retorno do investimento, como também ter a rentabilidade sobre o valor investido.
Em muitas empresas é preciso reeducar, reaprender, reentender, reanalisar e reagir. E esse momento que passamos no país é uma boa oportunidade para isso, pois o bom gestor enxerga oportunidades, principalmente, nas crises.
Numa empresa, o processamento das informações em sistemas padronizados fez com que muitas companhias acreditassem que, uma vez alimentados por esses indicadores, o sucesso da organização estava garantido. Porém, possuir informação e não direciona-las para o planejamento de ações estratégicas concretas para o desenvolvimento da organização é tão ruim quanto não tê-las.
Trazendo para a vida pessoal, é como se ao alimentarmos nossas crianças com as papinhas prontas, comprarmos as roupas da moda e matriculá-las na melhor academia fosse suficiente para que cresçam fortes e saudáveis. Mero engano. Sem o olhar, o sentir, o medir, o entender, atenção e tempo de doação ninguém desenvolve nada e nem ninguém. Nem uma empresa.
Especialmente no Brasil, onde surgem a cada dia novos empreendimentos que aproveitam uma oportunidade pra lançar algo inovador e com demandas bastante significativas, porém, proporcionalmente, também surgem empresas com grandes potenciais encerrando suas atividades, pois as boas ideias não foram sustentadas por uma gestão, pelo olhar, pelo sentir, pelo tempo de doação às necessidades de desenvolvimento da organização.
Assim como na natureza, gerar um filho é muito prazeroso, o difícil é transformá-lo em um cidadão que seja independente econômica, social e emocionalmente. Gerar um negócio também pode ser fácil e prazeroso, o desafio está em geri-lo para o sucesso, sendo referência em resultados econômicos, sociais e organizacionais.
Muito mais que analisar os números, como os pais que veem o boletim da criança, o empresário precisa entender o porquê do resultado, entender o que causa um bom desempenho e o que causou o mau desempenho.
Mais uma vez, como o pai que sustenta a ideia de que o filho é inteligente porque tira boas notas e que culpa a escola quando o filho não tem bom aproveitamento, muitos empresários atribuem o sucesso ao produto oferecido e o fracasso a situação governamental do país. É muito simples culpar o outro pelo fracasso de algo que somos responsáveis, porém, assumir que a solução de um problema está em nossas mãos não é fácil.
Entender as dificuldades de nossos filhos, conversando sobre seus medos, suas limitações para então usar argumentos, ações e planejamento para seu desenvolvimento é semelhante no mundo empresarial.
Ficar o dia todo olhando para o computador vendo gráficos e números, mas sem se preocupar em olhar para os colaboradores e sentir suas necessidades, ou para o cliente para visualizar sua satisfação, ou para o mercado para conhecer seus concorrentes, nos deixa somente obesos de informação vazia e pouco saudável para nossa empresa.

*Luciana Abram é consultora em franquias e gerente de operações da Franquear Estratégia e Gestão de Negócios, consultoria especializada na formatação, expansão e gestão de franquias.

Fonte: Gazeta Norte Mineira

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